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O nu e suas sobreposições

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Vivendo no raso

Aquele no espelho—é sombra

Reflexo maquiado, efeito da modernidade

Que constroe mentira de verdade

Hoje em dia já não vemos mais o nu—é feio, imoral, é vulnerabilidade.

Andamos cobertos, espírito e corpo

Uma falsa liberdade, que não se enxerga—efeito da modernidade

Gritamos por direitos enquanto nossos desejos, presos no idealismo

Berramos por liberdade enquanto comungamos as convenções do modernismo

Confundimos nosso espírito livre com rebeldia

Uma falácia fantasiada—o que é verdade?

Mas seguimos com a alma pintada

Preservando o seio, negando desejos, flagelando nossos anseios

Marchando na ordem convencional

Que é para não expormos nosso peito, preservar nossa moral intangível

E não nos desgastarmos enquanto gastamos a vida

Vivendo no raso

E aos poucos, nossa essência vai escorrendo pelo ralo. //

DT


Superpositions

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Pensamos que a fotografia é estática. Mas há movimento até no silêncio—assim como as vezes ele pode ser ensurdecedor, a fotografia constrói coreografias, histórias, conta transformações, causa revoluções. É um movimento, constante, que causa dentro da gente.

A fotografia sempre contou um pouco de mim. Aquele olhar manso sobre a natureza—as cores como rimas em poesia. Aquele sorriso espontâneo depois do “xis” —uma busca constante pelo ser verdadeiro, cru, sem pose. Uma busca pela minha própria essência. Um olhar que vê sentimento, sem muita composição.

Mas na verdade, somos todos uma sobreposição. De preceitos, anseios, desejos, aquilo que a sociedade exige; tudo aquilo que escondemos de nós mesmos. Somos uma constante transformação—constante desejo de ser, outro(a). Somos a soma de cada pessoa que nossa alma encontra e divide histórias, lágrimas, risos. Seremos sempre encontros, desencontros e sobreposições. É da nossa natureza humana reinventar—somos constante movimento.

My dancing heart

Fotos dança contemporânea by @DanielleTeixeira

Fotos dança contemporânea by @DanielleTeixeira

Meus últimos anos fora do Brasil tem sido essa metamorfose cigana, coisa doida—quando acho que meu casulo está pronto para se abrir, eu me perco entre caixas de mudanças e recomeços. Eu sempre recomeço. É a resiliência berrando dentro de mim numa conversa infinita sobre sonhos e demônios, muita saudade, força e fracassos—muitos fracassos. Muitos risos. Cada recomeço era uma chance de mudança, de revolução. Evolução.

E ainda vivo essa transformação. Ela é infinita. “Não há nada fixo ou permanente, somos processos em transformação. Em cada encontro, nos transformamos. Cada pessoa que encontramos nos transforma.” —Sábia Monja Coen. É ilusória essa perseguição por perfeição. Tudo é movimento. Todo fim é chance de um recomeço—serei sempre vários casulos em constante metamorfose.

Minha fotografia evoluiu. Ela busca sua linguagem própria—como uma criança que aprende palavras, estou ainda procurando a minha voz dentro da fotografia. Estou sempre em movimento—aprendendo. E cada ensaio, cada cliente, cada alma que fotografo é um pedaço de transformação dentro de mim. É um processo lindo—não consigo fazer nada sem paixão. E aprendo que não existe perfeição. Existe aquele momento único—por mais que a lente tente repetir, ele já se foi... passou! Assim como todos nós! Amanhã já não seremos mais o que foi hoje. Amanhã, é a chance de ser outra coisa—linda na sua imperfeição, guerreira na sua evolução.  

Nota: Tenho uma gratidão infinita por esse ensaio! Obrigada, Carol! Espero termos feito revolução juntas!